Algumas das personalidades de maior destaque da colônia portuguesa de então, tendo à sua frente o Vice-cônsul Francisco Luiz Ribeiro, secundado por Manuel Fernandes Lima e o insigne José Vieira Pimenta, tomaram a iniciativa de criar uma casa de Beneficência, nos moldes da de Porto Alegre.
A ata número 1, que relata a realização dessa primeira reunião, na casa do vice-cônsul, nos dá a notícia de que alguns novos sócios careciam da necessidade de se criar um hospital, onde pudessem ser tratados, pois a sua ida para Porto Alegre era na época bastante demorada.
Em 21/06/1857, os agentes reúnem-se na casa do vice-cônsul e determinam pedir ajuda aos negociantes para em ação conjunta conseguir o maior número de sócios, já começando com 254 sócios. Por proposta de Vieira Pimenta, é nomeada uma comissão para angariar sócios e marca-se a data de 12/07/1857 para nova reunião, também no consulado, para prestar contas do trabalho.
Em 08/09/1857, quase dois meses depois, já com a devida autorização da Diretoria de Porto Alegre, reuniram-se os sócios para eleger, por escrutínio secreto (votação por urna), um procurador e 12 diretores, os quais, com os agentes, completavam a Diretoria. Foram eleitos: presidente Francisco Luiz Ribeiro, secretário José Vieira Pimenta e tesoureiro Manuel Fernandes Lima, diretoria esta que, no dia 16/09/1957, data de aniversário do Rei de Portugal, instalaria a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Pelotas, que ficou com certa dependência da Beneficência de Porto Alegre.
Ainda nessa reunião, procedeu-se à escolha do padroeiro do hospital, ficando resolvido que o mesmo ficasse sob a invocação de São Pedro, e foi nomeada uma comissão para tratar da localização e instalação do hospital, que foi instalado na Rua da Igreja, esquina da rua S. Domingos, depois Gal. Vitorino e hoje Padre Anchieta.
O novo hospital foi instalado, contando já a Sociedade com 350 sócios, e sob a proteção de S. M. Fidelíssima D. Pedro V, então rei de Portugal, a quem foi comunicada a fundação, e, convidado, aceitou ser seu protetor.
Em 29/06/1858, em assembleia geral, por unanimidade de votos, ficou estabelecido que a Beneficência de Pelotas se separasse da de Porto Alegre.
Separada, a sua Diretoria auxiliada pelo entusiasmo dos associados, cujo número crescia admiravelmente, lançou-se à grande obra de construir, em lugar apropriado e em terreno próprio, o seu hospital definitivo.
É quando surge, então, a figura tutelar e patriótica de José Antônio de Oliveira Leitão, que, junto com sua virtuosa esposa, dona Isabel de Fontoura Leitão, doou todo o terreno, ou seja, toda a quadra, em que se encontra a Beneficência. Graças ao valioso donativo foi possível o largo desenvolvimento do hospital e possibilitada a construção da grandiosa obra.
Para construir o novo hospital, donativos importantes em dinheiro foram recebidos e ações foram emitidas. Rapidamente puderam juntar um bom fundo de reserva, aceitável para a época.
Para aumentar o fundo, necessário para as obras, realizaram espetáculos e quermesses, e fizeram empréstimos bancários a juros de 1,5% ao mês; os sócios e amigos da Beneficência organizam listas de donativos. Não houve, enfim, o que não se fizesse para levar adiante o grande empreendimento, para a honra do nome português em Pelotas.
Foi graças ao apoio recebido que puderam os homens desta Sociedade Portuguesa de Beneficência, dar início às obras, em 13/02/1859, com a benção da pedra fundamental que foi colocada nos alicerces do novo prédio. Como diz na respectiva ata, a esta solenidade compareceram altas autoridades eclesiásticas, militares, civis e diplomáticas colocando-se na mesma pedra uma moeda portuguesa e outra brasileira, ambas de prata, e um auto em latim, lido pelo Vigário. Em 13/07/1861 era dada a benção inaugural ao novo edifício.
No dia seguinte, para consolidar a inauguração do hospital, fazia-se doada pelo benemérito José Antônio Leitão, a transladação da imagem de São Pedro, padroeiro da Sociedade, da Igreja Matriz para a capela provisória do estabelecimento, que ficava onde hoje está a sala de espera.
Passados 33 anos da inauguração do hospital, a Sociedade Portuguesa de Beneficência seguia em pleno desenvolvimento e aumento do quadro societário. Porém, o hospital não estava completo. Desde a pedra fundamental até a inauguração, a ideia sempre foi construir a Capela do Hospital, que deveria ficar localizada ao sul do terreno doado.
Quando o assunto voltou à pauta das reuniões e assembleias por volta de 1889, alguns sócios colocaram-se contra a obra. Na assembleia ocorrida no dia 22 de junho de 1890, presidida por Antônio da Veiga Faria, os contrários à construção alegaram que neste local poderia ser erguida uma nova enfermaria, para “bem de isolar os sócios enfermos de moléstias contagiosas”.
Diante do impasse, foi convocada uma assembleia geral. O presidente Antônio Vieira da Veiga mostrou a importância da nova Capela, e como esta obra iria aumentar o número de vagas, visto que no local da Capela provisória poderia ser construída uma nova enfermaria.
Foi feita uma pausa de quinze minutos na assembleia para discussões e uma visita ao local destinado à construção da Capela. Logo após a pausa, os sócios voltaram à sala da assembleia para votação, e por unanimidade foi aprovada a construção da Capela.
Em reunião da direção, foram apresentadas duas propostas de plantas da Capela, uma feita pela própria comissão e outra pelo sócio Sr. Francisco Pinto de Madureira.
Ambos os projetos foram minuciosamente examinados. A primeira proposta da comissão foi bastante elogiada, mas considerada em desacordo com o que se deveria fazer. Já a proposta apresentada pelo Sócio Sr. Francisco foi aprovada por unanimidade por apresentar os predicados necessários, além de ser julgada mais barata. Aprovada a planta de construção, foram apresentadas cinco propostas, do Sr. Joaquim Francisco de Oliveira (21:600:00 réis); Guilherme Marcucci (20:700:000 réis); Casaretto & Irmãos (19:900:00 réis) e de Antônio José dos Santos (19:600:000 réis).
De acordo com a comissão de obras, seria escolhida aquela empresa que cobrasse o valor mais barato e que estivesse de acordo com o contrato e condições estipuladas, além de seguir a planta proposta. Analisadas as propostas, foi escolhida a proposta do Sr. Antônio José dos Santos, porém por divergência no contrato entre ambas as partes, os membros da direção da Sociedade Portuguesa de Beneficência trocaram para a empresa Casaretto & Irmãos, pelo custo total de (19:600:00 réis).
A Sociedade possuía o valor estimado para realização da obra, porém durante todo o tempo de construção foi necessário promover diversas ações beneficentes, amplamente engajadas tanto pela comunidade portuguesa, quanto pela sociedade de Pelotas. Um exemplo foi a peça teatral “O beijo de Judas”, apresentada no dia 25 de abril de 1894, pelo grupo Beijos de Thalia, com todo o lucro revertido para a obra. Outras doações pessoais contribuíram para a realização dela.
Após pouco mais de um ano de construção, em reunião de diretoria do dia 15 de novembro foi anunciado o fim da obra da Capela, ficando apenas faltando a benção oficial feita pelo Bispo da época, que ocorreu poucos dias após. Nesta reunião foi lido o ofício oficial do Sr. Casaretto, enviado para a Direção, que informava a “entrega da capela desta sociedade”. Começavam aí as atividades de uma das Capelas mais antigas da cidade.
Em 1916, entraram para este hospital as irmãs da Congregação da Divina Providência, que deram a ele a austeridade e o respeito que devem ser impressos a casas desta ordem.
Em 16/09/1951 inauguram-se novos e amplos pavilhões, entregando-os à Comunidade Pelotense e da Zona Sul.
A partir da década de 60 novas alas foram construídas, realocadas ou melhoradas, bem como realizada aquisição de novos equipamentos.
Se for verdade que a Beneficência foi fundada por portugueses não é menos verdade que ao longo de sua história, tem sido valiosa a contribuição, auxílio e apoio dos Pelotenses, muitos dos quais, pertencem a seu quadro associativo.
É de justiça ressaltar o apoio, por todos devidamente reconhecido, sempre recebido de médicos ilustres que deram o melhor de seus esforços e emprestaram à Beneficência, o prestígio de seu nome demonstrando ser possível e ideal a irmanação de esforços com um objetivo comum.
Com uma área construída de mais de 20.000 m2, a Beneficência Portuguesa de Pelotas desenvolve seu trabalho centenário, que ao longo destes 165 anos, tem acompanhado as evoluções da medicina e administração hospitalar moderna, prezando sempre pelo bom atendimento, segurança e conforto dos seus pacientes, funcionários e corpo clínico, com ações humanizadas e novas tecnologias.
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